sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Indulto de Amor

Eu nem imagino como seja a sensação de um detento que está há anos na prisão tendo o seu primeiro indulto de liberdade. Indulto sabe? Um ato de clemência do poder público que permite que o dentento possa passar as festividades do Natal fora da prisão, com a condição de ter que voltar para lá.

Apesar de nem imaginar o que é de fato estar em uma prisão de verdade (e nem querer), volto para as minhas metáforas e concluo, já no segundo parágrafo, que também tive meus dias de indulto durante alguns dias de outubro.

Durante tempos me aprisionei a uma sentença bastante dolorosa: a solidão. É claro, que todo mundo que me conhece e lê isto fica imaginando como uma garota legal que nem eu, “tão nova”, pode se sentir solitária. E mesmo que eu tenha muitos ao meu redor (amém), faltava uma parte para ser preenchida. Já faz um tempo que me faltava amar.

Então, por algum motivo, quem sabe bom comportamento, depois de longos 4 anos aprisionada, eu ganhei meu primeiro indulto. Nossa! Como foi bom! A sensação de amar e estar sendo (quem sabe) amada. Livre, estaria eu daquelas noites tristes, de dias sem cor, de não ter com quem compartilhar as alegrias, de não ter de quem sentir saudade, de não ter para quem ligar quando sair do trabalho? Estaria eu liberta?

Acho que a alegria de estar vivendo aqueles momentos novamente me deixaram tão cheia de vivacidade, tão sublime, tão em exctasy que eu fantasiei que, se ao menos, não fosse permanente, duraria mais que uns dias de outubro. Não haviam me dito que era só um indulto, pensei que era liberdade condicional. Acreditei que duraria até meu próximo crime.


E, agora, entrando novamente na minha penitenciária, minhas lágrimas não são apenas pela descoberta de que era só passageiro, tampouco porque o indulto acabou (tá, isso dói um pouco),mas a maior parte das minhas lágrimas é por ter que voltar à prisão.

De volta aos cinemas sozinhas, de volta às noites sem para quem dizer “boa noite”, de volta a ser a única que não tem namorado para contar briguinhas infantis, de volta a ser a única que não está acompanhada na mesa. De volta a ver o sol nascer quadrado.


E por aqui, observando a cela ainda entreaberta, me pergunto se eu devo revoltar-me, organizar esta rebelião e ser transferida para a solitária por tempo indeterminado ou se continuo a ser a detenta de bom comportamento à espera de novos dias de liberdade, à espera de um outro Natal, à espera mesmo de um novo indulto de amor.

"Eu voo pro alto, eu vou em frente. De volta pro presente."


Um comentário:

  1. Você já parou para pensar que talvez você esteja fora da cela (mas como aquele detento que não sabe viver solto)?

    A liberdade é linda. Curta, aproveite. Não se preocupe em se prender, afinal de contas, todos nós temos nosso mau comportamento ;-)

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Agora que você sabe o que eu penso, que tal me dizer o que você pensa sobre isso. =)