domingo, 28 de fevereiro de 2010

A mesa de Política

Neste sábado, eu tive a chance de participar de um evento que confirmou a minha opinião sobre as redes sociais, elas realmente tem a chance de nos transformar em sociedade.

[leia o post Embalo das redes]

O ETC_Manaus, um evento que trouxe pra vida real as discussões que acontecem dentro do twitter baré, reuniu inúmeros twitteiros interessados em cidadania, mídia, entretenimento, sociedade e política. Esta última, um dos melhores debates ocorridos na programação.

[veja o site do ETC_ Manaus]

A mesa de política era preenchida por Pauderney Avelino, Marcelo Ramos, Luiz Castro e Chico Preto, políticos do cenário local com presença no twitter. Mediado pelo jornalista Ismael Benigno, o debate se iniciou com as opiniões bem fundamentadas do próprio. Dentre uma delas, uma me chamou atenção em especial.

Ismael saudou-os pela iniciativa dos convidados de os mesmos atualizarem pessoalmente os seus espaços de 140 caracteres, não utilizando assessores para isso. Concordo que tal atitude é realmente bem válida caso seja da vontade deles uma gestão transparente.

Mas foi justamente essa palavrinha #transparência que me deixou com a pulga atrás da orelha.
Chico Preto, em determinada hora falou do silêncio dos bons. E este foi o gancho final para eu formular o meu pensamento. Indaguei:

"Nós, os bons, ficamos calados durante muito tempo, e com o twitter tivemos a oportunidade de dizer o que ficou engasgado durante muito tempo. E justamente por termos sido reprimidos é que hoje talvez quando falamos não sejamos tão diplomáticos assim e até exageremos na rispidez. Isso,talvez, justifique a criação dos perfis fakes, porque no twitter tivemos a chance de ridicularizar quem sempre nos fez de palhaços.
Então, eu gostaria de saber, já que são vocês mesmo que atualizam seus perfis, se usam o twitter como um monólogo, se respondem às duras críticas que chegam ou simplesmente as deletam, ou os consideram 'malucos' ou 'fuxiqueiros' ? "

Penso tudo isso mesmo. Mesmo os tais atualizando pessoalmente seus perfis no twitter (o que concordo com o Ismael, é bastante louvável) eles podem ser mais falsos que o fake pref_bigblack (sátira do perfil do prefeito de Manaus Amazonino Mendes).

Acredito com muita convicção que da mesma forma que os perfis falsos são em base de personagens, um perfil dito verdadeiro pode ser extremamente falso e adotar os mesmos personagens da época da eleição: o sério, o credível, o honesto.

Assim como em campanha, o twitter também é um grande palco. E todo político adora um palanque, sabemos bem. A grande diferença é que no twitter não precisamos ficar lá em baixo calados, indignados, com vontade de atirar um sapato. Podemos soltar a voz. Podemos dizer, podemos gritar, podemos retwittar. O palco é igual para todos nós, os mesmos 14o caracteres.

O maluco, o fuxiqueiro não é ninguém mais do que nós, os cidadãos que se revoltaram (e com a mais justa das razões). E olha, se não enlouquecemos até hoje depois de assistirmos "passivos" tanta corrupção é porque realmente somos brasileiros e por infelicidade ou não, continuamos acreditando numa sociedade com administradores mais dignos.

Tive minha pergunta respondida. Agradeço. Todos os componentes da mesa disseram responder suas mensagens procurando usar da maior serenidade possível, mesmo às mais pesadas retaliações. E alguns disseram que quando a situação ficava um tanto quanto calorosa demais, sempre existia a opção de unfollow.

Mas, ainda me ficou uma dúvida, que pode até ser uma comparação tola. Me desculpem perguntar, mas dar unfollow num twitteiro exaltado não seria a mesma coisa que fechar a porta do gabinete na cara de um cidadão revoltado?

Fica para uma próxima mesa de política...


1: Foto: Divulgação ETC Manaus.

2: Tentei ser o mais fidedigna possível transcrevendo a pergunta que fiz no ETC_Manaus, mas sabe como é, não deu pra decorar palavra por palavra. ;)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nós e o ninguém

O campo profissional ganha cada vez mais espaço nas prioridades das pessoas da minha idade (inclusive nas minhas, assumo).
Os planos pessoais, esses que todo mundo faz, de casar, ter filhos, apaixonar, que seja, vai ficando cada vez mais guardado no fundo da gaveta, como aqueles papeis que deixamos lá para quando tivermos tempo de resolver.
E isso me fez pensar em quanto tempo se gasta prorrogando o dia de se envolver. Quantas boas pessoas se descarta porque o profissional está em primeiro lugar.
Quanto tempo dura pra chegar o dia de dar espaço para mais alguém nos nossos planos.
"Só daqui a 2 anos"." Vou me casar com 26, ter filho só aos 28" e por aí vai.
Se identificou?
Cronometramos o tempo certo de colocar a vida pessoal em primeiro plano. E por acabar enxergando apenas um lado do foco, talvez estejamos perdendo de vista preciosas oportunidades.
E quando acabar o prazo de validade deste tempo que demos, caso o sucesso profissional não tenha sido atingido, revalidaremos o tempo por mais quanto tempo? Tempo indeterminado.
Mas eu fico pensando mesmo é no tal alguém que pretendemos encontrar quando a hora chegar.
Quem garante que ele vai estar lá quando quisermos o encontrar?
Provavelmente, ele já terá casado, já terá filhos e quer saber? Ele pode até estar bem feliz.
Feliz de um jeito que não vamos estar quando sacarmos que desperdiçamos tempo demais focando apenas um plano de nossas vidas.
Quando olharmos ao redor veremos nossos amigos com suas profissões e seus alguéns.
Talvez tenhamos até a sensação de que dava sim para conciliar os dois planos, só exigia um pouco mais esforço da nossa parte.
E enquanto revalidamos o tempo, nossa juventude vai passando.
E todo aquele gás, típico da juventude, usado para gastar com o profissional também vai se esgotando. Cansaremos.
E no dia que se cansa, em vez de encontrarmos o personagem alguém, outro personagem estará a nossa espera: o ninguém.
Ninguém estará em casa.
Ninguém estará nos esperando.
Ninguém quer saber dos nossos sucessos profissionais.
Ninguém sentiu saudade de nós.
Ficamos nós, sós, e mais ninguém.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O beijo implorado

Então, já no final, quando se despediam, ele pediu um beijo.
Negou.
Em sua voz havia mais que o tom normal de um pedido.
Ele a implorava.
"Ah, por favor, o que custa, um último beijo"
Abraçada a ele, sentindo seu coração bater no meu peito, relembrou que um dia já esteve em situação semelhante.
Lembrou quando implorou de Raphael um beijo pois partia para Manaus, para talvez, nunca mais voltar ao Rio de Janeiro.
Tinha ido ao Rio de Janeiro só para vê-lo e as coisas não deram muito certo.
Talvez, pelo mesmo motivo de agora.
Uma parte da situação estava envolvida mais do que a outra.
Lembrou que realmente insistiu para Raphael lhe dar um beijo.
Pediu mais de uma vez.
E naquele momento eu recordou exatamente a sensação que teve.
Pensava justamente o que custava ele lhe dar um beijo se ela iria embora.
O que seria um beijo pra ele?
Ela poderia morrer, o avião poderia cair, e ele não queria simplesmente lhe dar um beijo.
Um mísero beijo.
Raphaelo a beijou naquele momento.
Levou com ela sempre a dor daquela rejeição.
Ele não sentiu desejo por sua boca. E se houvesse a beijado, provavelmente, o faria por pena.
Sentiu raiva de Raphael até o dia de hoje.
E lá estava ela, anos depois, no meio da praça São Sebastião.
O táxi esperando.
As luzes de Natal tornando tudo um pouco mais novela mexicana.
Ele abraçado com ela. Abraçava-a com toda a força que tinha.
Ele, ironicamente, tão carioca quanto Raphael.
Ela, não era mais a vítima da história, era, agora, a vilã.
Já havia negado beijos por diversas vezes naquela noite.
o acreditava que faria bem para ele se demonstrasse qualquer afeto que não fosse o de "amiga".
o gostaria de fazê-lo sofrer um pouco mais do que já havia feito.
Sentiu diversas vezes vontade de beijá-lo, mas saberia que se sentiria muito mais culpada do que satisfeita depois que o beijo acabasse.
Realmente não era um grande esforço para ela negá-lo, mesmo que as mãos dele diversas vezes tivessem buscado seu corpo.
Estava muito certa da sua decisão.
Na verdade, muita certa do que não sentia por ele.
Também não seria um esforço para ela se entregar às tentativas.
o seria apenas por pena, por desejo também.
Mas não era algo essencial naquele momento.
As consequências seriam muito piores.
Piores para ele. Tinha responsabilidade por seus sentimentos.
E o táxi ali. E as luzes de Natal ali. E a Igreja à frente, ali.
Acabara de sair de lá de dentro, rezando para que as coisas terminassem da maneira certa.
E qual era a maneira certa?
Negar-lhe o beijo ou beijá-lo. Tic, Tac.
Raphael havia ganhado seu perdão neste exato momento.
Ela que pedia desculpas por ter insistido para ele a beijar.
Foi a coisa mais difícil do mundo ter que decidir se o seu beijo faria mais mal ou mais bem a pessoa que lhe pedia.
Um beijo implorado.
" Ô, é um último beijo, só isso, por favor "
E ao ouvir toda a dor que a entonação de voz que aquele pedido trazia.
Traíu-se.
Beijou-o.
Rápida. Leve. Artificial.
Durou 1 segundo. Durou tempo demais.
Um beijo, um simples beijo. Um mísero beijo.
Quanta diferença faz um beijo dado e um negado de quem lhe implora?
Quanto dói um beijo implorado?
Raphaelo a beijou nem por pena e ela só beijou seu novo amante por pena.
Era isso. Essa era sua diferença em um situação igual.
Sentiu-se culpada. Sentiu-se um pouco Raphael.
Será que Raphael se sentiu culpado? - pensou
"Será que beijei bem?"


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A caminhada

Ela seguiu em frente.
Havia passado muito tempo parada.
Estava feliz por caminhar.
Resolveu dar passos em direção ao horizonte.
Um. Dois. Deu três passos, no máximo.
Não foi muito longe.
Caiu num buraco.
A queda doeu.
Se machucou.
Havia feridas sobre sua pele.
Ardiam. Sangravam.
Não teve reação alguma.
Nem tentou levantar-se.
Nada doía mais que a dor do fracasso.
Queria tanto seguir em frente que não prestou atenção por onde firmava seus pés.
Caiu naquele buraco por imprudência.
Falta de atenção, euforia exagerada.
Sentia-se incompetente.
Chorava. Abaixava a cabeça sobre as pernas e chorava.
Envergonhava-se de si mesma.
Queria ficar ali pra sempre e nunca mais dar nenhum passo rumo a lugar nenhum.
Calou-se. Pensou. Reagiu.
Tentou sair.
Pulava, se agarrava nas laterais.
Não conseguia.
Às vezes, chegava até perto da saída, mas um apoio em falso e escorregava.
Lá estava no fundo do buraco novamente.
Por tantas vezes, pela dor física, pela dor psicológica, quis desistir de vez para sempre.
Em momentos frustrados como as lágrimas lhe acompanhavam por diversas horas.
Quando se reestabelecia tentava mais uma vez sair dali.
E nessas diversas tentativas, um dia saiu.
Estava fora do buraco.
Nem podia acreditar. Ficou imensamente feliz.
Conseguira.
Mas agora chegava a um novo impasse.
Gastou tanta energia para sair daquele buraco que não tinha mais forças para seguir em frente novamente.
E claro, não eram só as raras energias que a faziam querer ficar parada, como antes de cair.
Sentia medo. Medo de caminhar e cair novamente em um próximo buraco.
Não teria forças para sair de outro buraco em tão pouco tempo do último.
Mas se contradizia quando sentia este medo.
Pois se era pra ficar parada, por que quis tanto sair do buraco?
Por que não ficou lá já que não iria mais querer ir adiante?
Percebeu que o medo era real, mas deveria ser enfrentado.
Mais real que o medo eram suas poucas energias.
Deu o primeiro passo. Sentiu dores.
Deu mais um, a dor ainda estava lá.
Levava na memória a sensação do fracasso por ter caído no buraco e o gosto da vitória por ter saído de lá da mesma forma que entrou: sozinha.
E de passo em passo as dores foram amenizando.
Não dá para saber se acostumou-se com elas, ou se suas feridas foram cicatrizando durante a caminhada.
De vez em quando parava, olhava para trás, via o buraco.
Sentia o medo dominar seus passos.
Mas o medo era importante para fazê-la olhar por onde anda.
Olhava para frente, novamente.
Cautelosa, um pé atrás do outro.
A caminhada de agora era mais lenta, porém mais atenta.
Menos eufórica. Mais contida.
Aprendeu que o que importava não era a velocidade dos seus passos.
Seja dentro ou fora de um buraco, não se podia ficar parada.
O que importava realmente era continuar seguindo em frente.
Seguiu.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Tia da Mariana

Meus olhos estão cheios de lágrimas. Estou verdadeiramente emocionada.
Hoje fiquei oficialmente para titia. Sou Tia da Mariana Jacob Torres Aleixo.
E com um nome destes, não precisa nem dizer o quanto princesa é esta menina.
Filha da minha amiga Karen Jacob, ainda lembro do dia que ela me deu esta notícia.
Nos corredores da Seplan:
- Tenho uma coisa pra te contar - disse ela
- Você está grávida - brinquei
- Fala baixo! ordenou
Tomei um susto e me abracei com a parede.
Ela estava grávida. Ela iria multiplicar-se.
Eu e Karen temos uma história bonita na Seplan. Estivemos lado a lado em muitos aperreios do trabalho. Cada evento, tiravámos uma foto. Éramos a dupla "as bilés". Até quadrilha dançamos juntas. E não só de alegria foi feita a nossa amizade, ela me consolou em diversos choros. Me ouviu mais que ninguém ali. A ouvi também!
Fora do trabalho nossa amizade continuava. Quantas festas.
E é justamente uma destas festas que não me sai da cabeça agora.
Ano passado eu e Karen estávamos muito próximas no Carnaval.
Fomos ao centro atrás de fantasias. Vestimos o buá para a banda da bica.
E toda vez que algo desconfortável nos acontecia, seja com a fantasia ou no momento, sempre dizíamos:
- Ano que vem a gente já sabe!
E a partir daí construíamos planos diferentes para o carnaval seguinte.
E em que época do ano filhinha dela escolhe nascer?
Na folia do Carnaval.
Nem por um mero descuido passava pela nossa cabeça que qualquer uma de nós duas estaria grávida no ano seguinte.
E somos assim. Ficamos fazendo planos. Construindo metas. E pensando no "quando".
E de repente a vida nos mostra que somos apenas grandissíssimos bobões gastando tempo pensando nisso tudo.
Não estamos no controle.
Hoje a Mariana nasceu.
Nossa pequena foliã já tem até samba para cantar seu nome:
Quem não conhece o famoso 'Mariana parte minha' que em versos declara que "Mariana é minha flor"?
Um florzinha fora dos planos, totalmente inesperada no jardim.
Mas tão amada por todos, tão amada, que já nem se imagina a vida sem ela.
O mundo hoje passa a ser mais bonito com a presença da Mariana.
E uma criança que nasce em uma época que o povo brasileiro, tão sofrido, larga todas as angústias para simplesmente pular e se entregar a uma explosão de felicidade chamada Carnaval, só pode mesmo ser a promessa divina de um futuro cheio de felicidade.
Felicidade para ela.
Felicidade para a mãe dela.
Felicidade para o pai dela.
Felicidade para todos que a rodeiam.
Hoje, em pleno domingo de carnaval, a minha fantasia é real. Me visto de titia.
Tia, coruja, da Mariana.

"Mariana te dou. Mariana calor. Mariana parte minha. Mariana é minha flor"

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Você tem a melhor das alines

Vc tem a melhor das alines.
A aline que invade seus pensamentos.
A aline que aparece quando você tem vontade.
A aline que te domina.
A aline que leva suas mãos a lugares proibidos para menores.
A aline que é toda sua.
Inteira, intensa e por completa.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Embalo das redes

Hoje, nós, usuários do gmail tivemos a oportunidade de ingressar em mais uma rede social: o google buzz. E enquanto eu batia cabeça tentando saber como mexia nas ferramentas, me perguntei o quanto todas essas ferramentas nos torna mais sociais?

Depois de nossas ferramentas de bate papo, fomos apresentados ao orkut. O orkut quis ser nosso amigo e nós aceitamos. Daí em diantes não parou mais. Em intervalos menores de tempo surgiram novas redes que ligaram pessoas conhecidas a conhecidas, desconhecidas a conhecidas, desconhecidos a desconhecidos. E estamos ligados por conexões imaginárias.

Essas conexões talvez não sejam tão imaginárias assim. Por diversas vezes trazemos a vida virtual para o mundo real. Os desconhecidos, depois de alguns retweetts , scraps e comentários , viram íntimos virtualmente e após criada esta intimidade chegamos ao limite para que ele vire conhecido também na vida sem avatar.

A verdade é que nesta vida de perfis temos a chance de ser quem queremos ser e agradar do jeito que queremos agradar (ou desagradar). Há quem escolha mostrar sempre uma carinha sorrindo. Há quem faça questão de nem se mostrar. Há quem só tenha o espaço virtual para dizer o que é reprimido na vida real. Há quem se idealize pelo perfil alheio, mesmo que o alheio já não faça parte nem do mundo real, nem do virtual, porque, simplesmente, já morreu. Há mocinhos. Há bandidos.

Seja a característica que você der a si mesmo, verossímil ou não à realidade, sempre existirá alguém que se identifique com a personalidade descrita no campo "quem sou eu". Nos achamos peça única a vida inteira, mas quando ingressamos nestas redes percebemos que se tantos se identificam conosco é porque muito temos de igual.

E a partir desta identificação, vamos nos agrupando. Vamos tornando os desconhecidos virtuais em conhecidos reais. E reciprocamente, passamos também a sermos conhecidos de mais e mais pessoas. Das simples teclas de nosso computador, construímos relações. No embalo das redes, nos tornamos mais SOCIAIS, nos tornamos mais SOCIÁVEIS, nos tornamos mais SOCIEDADE!

Eu vejo o futuro repetir o passado

O mundo é redondo mesmo. E não é a geografia, nem as fotos de satélite que me provam isso, é a vida. A vida mostra que as voltas que damos giram 360 graus e acabam, de alguma maneira, no mesmo lugar. E isso me faz lembrar a música do Cazuza que diz "eu vejo o futuro repetir o passado".

Fui levar minha prima à escola, ontem. A mesma escola que estudei a vida inteira. Ela, neta paparicada pela minha avó, que nem eu. Ela, sendo criada pela minha avó, como eu fui. Levada para escola na Kombi do meu avô, como eu fui levada e buscada a vida escolar inteira. Eu vejo, bem de perto, o presente repetir o passado.

Ao deixá-la na escola, na minha escola, tive milhares de emoções misturadas. O mesmo cheiro, os mesmos corredores e a nostalgia. Não saudade, nostalgia. Vendo as mudanças, na infraestrutura da escola, a surpresa. Enquanto caminhava por um lugar que eu conhecia bem, a segurança. E ao lembrar das dores que ali senti, meu mix de emoções findou em medo.

O medo não partia exatamente por mim, mas por aquela menininha indefesa que eu segurava na mão. E se o futuro repetir realmente o passado? E se ela for exposta a crueldade infantil a qual eu fui naquelas salas de aula? Meu instinto materno sentiu vontade de sair correndo dali com ela.

Bem verdade, o mundo é redondo. E do jeito que as coisas vão, elas podem voltar. Mas assim como as coisas que foram levaram alguma coisa, nada que voltará virá sem nada nas mãos.

A minha priminha estuda na mesma escola, mas viverá experiências novas, mesmo que seja nos velhos corredores. Apesar das muitas semelhanças, o caminho dela não está escrito no meu passado. Ela terá seu próprio destino.

Hoje, minha pequena princesa não quis ir para aula porque uma amiguinha a chamou de chata ontem. E ao conversar com ela sobre o acontecido e convencê-la a ir para a escola, percebi que ela tem uma vantagem que eu não tive: alguém para servir de google maps sobre o seu caminho de agora. Eu mais que vejo "o futuro repetir o passado", eu participo desta repetição.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Não me trate bem


Não me trate bem.
Não sorria para mim.
Não seja gentil.
Não seja cavalheiro.
Não quero voltar a sentir saudades suas.
Não quero esperar novamente suas ligações nunca recebidas.
Não quero ter esperança de reconciliações.
Não quero me reapaixonar.
Não o quero de volta.
Não posso esperar a sua volta.
Por isso, pise no meu pé.
Passe por cima de mim.
Não me enxergue.
Magoe meu coração.
Me esnobe. Me despreze.
Vira a cara. Me dê um tapa.
Me rejeite mais uma vez.
Mas, por favor, não!
Não me trate bem, meu bem!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Prisioneiro do Reflexo

Estou presa. Estou presa no meu reflexo.
E talvez, muitos estejam vivendo aprisionados como eu, presos na ditadura da imagem refletida.
Olhamos pro que o espelho reflete e nunca estamos satisfeitos.
Podemos até estar saudáveis, mas não estamos verdadeiramente preocupados com isso.
Estamos preocupados com o reflexo.
Nunca estamos pesando o suficiente, seja para quem quer emagrecer ou seja para quem quer engordar.
Nossas coxas, bundas, barrigas não estão na centimetragem certa.
Nosso salto não está mais na moda. Nosso celular não acompanha a tecnologia tanto quando os que vemos por aí.
Não ganhamos o melhor salário. E o emprego, nem de longe, é o queremos para o futuro.
Não temos em mãos o que queríamos ter quando tivessemos a idade que temos hoje.
E quem disse que do jeito que está não está bom?
Quem sempre nos diz é a imagem que bate no espelho e volta para a nossa visão: O REFLEXO!
E talvez, por estarmos presos nesta ditadura, não consigamos lembrar que quando a nossa imagem real é projetada ela reflete ao contrário.
O espelho nunca projetará uma imagem que realmente nos deixe a contento, nossa imagem vai sempre estar de um jeito que não queremos que ela esteja.
Ele sempre dirá que está tudo errado porque é natural do espelho colocar as coisas pelo lado avesso.
Se não nos libertarmos, sempre haverá insatisfação.
O reflexo só faz o papel dele.
Talvez, esteja tudo do jeito certo.
Talvez, esteja tudo no tempo certo.
Nós é que estamos vendo tudo ao contrário
Vendo do lado errado. Do lado de quem está preso no reflexo.
Reflita!

Um sonho surreal

Tive um sonho maluco.
Um sonho surreal.
De tão maluco, virou pesadelo.
Teve início partindo da realidade onde eu estava:
uma cama bastante confortável ao lado de uma pessoa bastante agradável.
Começou parecendo que seria uma extensão do momento maravilhoso que eu estava vivendo.
Eu ali, dormindo com ele.
Eis que quando eu olho para o lado, deitada conosco também está uma loira em nossa cama.
E ela surgiu do nada. Simplesmente estava deitada ao meu lado.
Ah, então o sonho iria ficar bem melhor: eu + ele + a loira ali, dando sopa.
Observe que o cenário do sonho era fidedigno ao cenário real.
A loira foi ao closet comigo e eu perguntava dela de onde ela tinha surgido.
Já que misteriosamente, não havia uma explicação. Ela só apareceu na cama.
E ela me explica que mais pessoas estavam chegando porque ali era um lugar bom para ficar. A própria havia passado essa mensagem na minha frente para outras pessoas.
A partir daí o sonho foi ficando sinistro e ganhando suas formas de pesadelo.
Não existia mais nenhum " q " sexual com a presença da loira ali.
E quando eu saio do closet e entro no quarto novamente,
me deparo com muitas pessoas. Pessoas que vinham de diversos lugares do mundo.
Ela estavam caracterizadas por uma roupa incomum e colorida da qual eu não sei descrever.
E vão surgindo mais e mais a ponto do quarto ( que é enorme) difícil de se transitar.
Pessoas com trajes típicos de um lugar que vinham por meio de uma trasnferência telecinética (foi a palavra que encontrei para definir que elas surgiam do nada).
E eu trafegava por essas pessoas meio perdida e assustada e tentando expulsá-las.
Me perguntava qual portal que as trazia até ali. Afinal, todo mundo que chega, entra por algum lugar.
Então, nesta hora (desta parte eu me lembro tão nitidamente) eu fixo meus olhos num espelho distante que estava na parede. Não existe este espelho no quarto real.
Vou, pela multidão, seguindo até o objeto, como se costurasse o caminho.
Tiro o espelho da parede. Ele é redondo. Seguro e olho para dentro dele.
O portal é o espelho!
É por lá que eles estão entrando. Descubro, por fim!
Neste momento, um dos atravessadores de reflexo que lá está me prende por trás e me obriga a fixar os olhos para o espelho.
Ainda tento lutar, fecho os meus olhos para não ver o meu reflexo.
Mas tenho a sensação de estar sendo sugada para dentro do espelho.
Ainda lembro do tom de ameaça na voz do ser que me prendia quando ele dizia que eu ficaria presa lá, sem poder voltar.
E esta sensação de ter a alma capturada foi tão aterrorizante que mesmo sendo só um sonho, ela atravessou a realidade.
E deve ter sido este sentimento de agonia que, por fim, me acordou.
E nem mesmo depois de, já no quarto e mundo real, ter recebido a indescritível sensação do abraço de consolo pelo pesadelo consegui me acalmar.
Fiquei o restante da noite a pensar.
E se, de uma outra maneira, eu estiver, sim, presa no meu reflexo?

(próximo post)