quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O beijo implorado

Então, já no final, quando se despediam, ele pediu um beijo.
Negou.
Em sua voz havia mais que o tom normal de um pedido.
Ele a implorava.
"Ah, por favor, o que custa, um último beijo"
Abraçada a ele, sentindo seu coração bater no meu peito, relembrou que um dia já esteve em situação semelhante.
Lembrou quando implorou de Raphael um beijo pois partia para Manaus, para talvez, nunca mais voltar ao Rio de Janeiro.
Tinha ido ao Rio de Janeiro só para vê-lo e as coisas não deram muito certo.
Talvez, pelo mesmo motivo de agora.
Uma parte da situação estava envolvida mais do que a outra.
Lembrou que realmente insistiu para Raphael lhe dar um beijo.
Pediu mais de uma vez.
E naquele momento eu recordou exatamente a sensação que teve.
Pensava justamente o que custava ele lhe dar um beijo se ela iria embora.
O que seria um beijo pra ele?
Ela poderia morrer, o avião poderia cair, e ele não queria simplesmente lhe dar um beijo.
Um mísero beijo.
Raphaelo a beijou naquele momento.
Levou com ela sempre a dor daquela rejeição.
Ele não sentiu desejo por sua boca. E se houvesse a beijado, provavelmente, o faria por pena.
Sentiu raiva de Raphael até o dia de hoje.
E lá estava ela, anos depois, no meio da praça São Sebastião.
O táxi esperando.
As luzes de Natal tornando tudo um pouco mais novela mexicana.
Ele abraçado com ela. Abraçava-a com toda a força que tinha.
Ele, ironicamente, tão carioca quanto Raphael.
Ela, não era mais a vítima da história, era, agora, a vilã.
Já havia negado beijos por diversas vezes naquela noite.
o acreditava que faria bem para ele se demonstrasse qualquer afeto que não fosse o de "amiga".
o gostaria de fazê-lo sofrer um pouco mais do que já havia feito.
Sentiu diversas vezes vontade de beijá-lo, mas saberia que se sentiria muito mais culpada do que satisfeita depois que o beijo acabasse.
Realmente não era um grande esforço para ela negá-lo, mesmo que as mãos dele diversas vezes tivessem buscado seu corpo.
Estava muito certa da sua decisão.
Na verdade, muita certa do que não sentia por ele.
Também não seria um esforço para ela se entregar às tentativas.
o seria apenas por pena, por desejo também.
Mas não era algo essencial naquele momento.
As consequências seriam muito piores.
Piores para ele. Tinha responsabilidade por seus sentimentos.
E o táxi ali. E as luzes de Natal ali. E a Igreja à frente, ali.
Acabara de sair de lá de dentro, rezando para que as coisas terminassem da maneira certa.
E qual era a maneira certa?
Negar-lhe o beijo ou beijá-lo. Tic, Tac.
Raphael havia ganhado seu perdão neste exato momento.
Ela que pedia desculpas por ter insistido para ele a beijar.
Foi a coisa mais difícil do mundo ter que decidir se o seu beijo faria mais mal ou mais bem a pessoa que lhe pedia.
Um beijo implorado.
" Ô, é um último beijo, só isso, por favor "
E ao ouvir toda a dor que a entonação de voz que aquele pedido trazia.
Traíu-se.
Beijou-o.
Rápida. Leve. Artificial.
Durou 1 segundo. Durou tempo demais.
Um beijo, um simples beijo. Um mísero beijo.
Quanta diferença faz um beijo dado e um negado de quem lhe implora?
Quanto dói um beijo implorado?
Raphaelo a beijou nem por pena e ela só beijou seu novo amante por pena.
Era isso. Essa era sua diferença em um situação igual.
Sentiu-se culpada. Sentiu-se um pouco Raphael.
Será que Raphael se sentiu culpado? - pensou
"Será que beijei bem?"


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