terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A caminhada

Ela seguiu em frente.
Havia passado muito tempo parada.
Estava feliz por caminhar.
Resolveu dar passos em direção ao horizonte.
Um. Dois. Deu três passos, no máximo.
Não foi muito longe.
Caiu num buraco.
A queda doeu.
Se machucou.
Havia feridas sobre sua pele.
Ardiam. Sangravam.
Não teve reação alguma.
Nem tentou levantar-se.
Nada doía mais que a dor do fracasso.
Queria tanto seguir em frente que não prestou atenção por onde firmava seus pés.
Caiu naquele buraco por imprudência.
Falta de atenção, euforia exagerada.
Sentia-se incompetente.
Chorava. Abaixava a cabeça sobre as pernas e chorava.
Envergonhava-se de si mesma.
Queria ficar ali pra sempre e nunca mais dar nenhum passo rumo a lugar nenhum.
Calou-se. Pensou. Reagiu.
Tentou sair.
Pulava, se agarrava nas laterais.
Não conseguia.
Às vezes, chegava até perto da saída, mas um apoio em falso e escorregava.
Lá estava no fundo do buraco novamente.
Por tantas vezes, pela dor física, pela dor psicológica, quis desistir de vez para sempre.
Em momentos frustrados como as lágrimas lhe acompanhavam por diversas horas.
Quando se reestabelecia tentava mais uma vez sair dali.
E nessas diversas tentativas, um dia saiu.
Estava fora do buraco.
Nem podia acreditar. Ficou imensamente feliz.
Conseguira.
Mas agora chegava a um novo impasse.
Gastou tanta energia para sair daquele buraco que não tinha mais forças para seguir em frente novamente.
E claro, não eram só as raras energias que a faziam querer ficar parada, como antes de cair.
Sentia medo. Medo de caminhar e cair novamente em um próximo buraco.
Não teria forças para sair de outro buraco em tão pouco tempo do último.
Mas se contradizia quando sentia este medo.
Pois se era pra ficar parada, por que quis tanto sair do buraco?
Por que não ficou lá já que não iria mais querer ir adiante?
Percebeu que o medo era real, mas deveria ser enfrentado.
Mais real que o medo eram suas poucas energias.
Deu o primeiro passo. Sentiu dores.
Deu mais um, a dor ainda estava lá.
Levava na memória a sensação do fracasso por ter caído no buraco e o gosto da vitória por ter saído de lá da mesma forma que entrou: sozinha.
E de passo em passo as dores foram amenizando.
Não dá para saber se acostumou-se com elas, ou se suas feridas foram cicatrizando durante a caminhada.
De vez em quando parava, olhava para trás, via o buraco.
Sentia o medo dominar seus passos.
Mas o medo era importante para fazê-la olhar por onde anda.
Olhava para frente, novamente.
Cautelosa, um pé atrás do outro.
A caminhada de agora era mais lenta, porém mais atenta.
Menos eufórica. Mais contida.
Aprendeu que o que importava não era a velocidade dos seus passos.
Seja dentro ou fora de um buraco, não se podia ficar parada.
O que importava realmente era continuar seguindo em frente.
Seguiu.

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