segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Cara & Coroa

Todo mundo fica por aí dizendo que a Vida é uma novela. Mas nas novelas, geralmente, os papeis são muito bem definidos. Na Vida, as definições já não são tão definidas assim, pleonasticamente usando as figuras de linguagem.

Existem os mocinhos e existem os vilões. Os que passam a novela sofrendo e os que passam aprontando. Mas na novela da Vida assumimos os dois lados da moeda. Trocamos de papeis quase que constantemente e muitas vezes chegamos até a assumir essas faces em simultaneidade.

Drumond especificou o nosso papel de cara e coroa muito bem em seu poema Quadrilha "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili". Quanto João sofreu por Teresa? Quanto Lili, ela que não amava ninguém, fez Joaquim sofrer?

Lembro bem ainda de todos que fizeram sofrer (gostaria de aproveitar e mandá-los a merda neste momento). Mas de certo esqueci da dor que causei em muitos daqueles que quiseram estar ao meu lado e rejeitei (gostaria de dizer também que não tive más intenções).

É mais fácil ser vítima. O texto é mais fácil de decorar. Ainda me lembro de ter que pensar em quais doces eufemismos usaria para traduzir o "eu não gosto de você" para os que me gostaram (se é que dá para ser doce quando se vai dizer uma coisa dessas).

E, sinceramente, seja qual expressão for, seja você bem direto ou mais político, a rejeição é sempre dolorosa. Eu sei bem, vivi muitas vezes. Mas é bom mesmo que passemos por esses dois lados da moeda. Justamente por sabermos a dor de ser preterido, temos a chance de sermos mais respeitosos com quem nos devota algum afeto e não é correspondido (mas isso é uma escolha pessoal, não uma regra).

E assim a vida segue, enquanto derramamos um pequeno copo de lágrimas (no meu caso, um garrafão) por uns aí, também nos tornamos algozes do pranto alheio. Não é culpa de ninguém. Nem do que sofre, nem do que faz sofrer. Somos mesmo uma moeda na mão da Vida. Ora ela nos joga e nos faz cara, ora nos faz coroa e às vezes nos faz os dois ao mesmo tempo. A única certeza é que ela sempre nos joga.


QUADRILHA

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agora que você sabe o que eu penso, que tal me dizer o que você pensa sobre isso. =)